domingo, 2 de junho de 2013

"Encontro com Capriles revela ambiguidade do governo Santos", diz deputado colombiano

Para Iván Cepeda, presidente diz que "deseja fazer a paz, mas não tem, ao mesmo tempo, políticas públicas coerentes"
Iván Cepeda Castro é um conhecido deputado do Polo Democrático. É também fundador e porta-voz do movimento de vítimas de crimes de Estado na Colômbia. Em entrevista a Opera Mundi, Cepeda Castro analisa a conjuntura e a recente crise com a Venezuela – provocada após encontro do presidente Juan Manuel Santos com o ex-canditato à Presidência da Venezuela, Henrique Capriles.

Efe (31/05/2013)
Santos, na opinião do deputado Iván Cepeda, deve definiri seu posicionamento sobre sobre o processo de paz com as FARC

Os dois vizinhos retomaram as relações há pouco mais de dois anos, graças ao esforço dos presidentes Hugo Chávez e Santos. Na ocasião, a Venezuela aceitou ser a mediadora do processo de negociação entre o governo colombiano e as FARC (Força Revolucionária da Colômbia), que continua a se desenrolar nos últimos oito meses.

Opera Mundi: Como o senhor interpreta a visita de Capriles à Colômbia e toda a polêmica que se desenrolou com o fato?
Iván Cepeda: A visita faz parte de uma estratégia que procura desestabilizar as relações entre Colômbia e Venezuela e, também, fomentar um ambiente de instabilidade no país vizinho. Além disso, busca obstruir, sem acabar completamente, com o processo de paz. Essa é vontade da ultra-direita colombiana, que vem trabalhando nesse sentido há um bom tempo. Sabemos que o uribismo fez diversas tentativas para interferir na política da Venezuela.

O ex-presidente Uribe, ainda em sua gestão, não poupou esforços para interferir na Venezuela e, agora, na posição de opositor ao processo de paz, continua na mesma direção. No entanto, o encontro de Capriles e Santos é um episódio que revela a ambiguidade do governo Santos, que deseja fazer a paz, mas não tem, ao mesmo tempo, políticas públicas coerentes com esse propósito. Dessa forma, acredito que o presidente Santos deveria definir sua posição. Se quer fazer a paz e se ele quer que as negociações em Havana tenham sucesso, ele precisa tomar uma posição contras as investidas do ex-presidente Uribe.


OM: Santos pode ter sido vítima das circunstâncias quando ele afirma “existir um claro jogo político"?
IC: Existem ambiguidades no discurso, como existe também em outros planos. O presidente Santos está conversando na negociação de paz de Havana sobre a política rural. Na semana passada chegaram a um acordo sobre esse tema

[Iván Cepeda: "espero que o governo corrija o gravíssimo erro de ter dado voz no país para a oposição venezuelana"]

No entanto, Santos continua trazendo para o congresso colombiano iniciativas que vão na direção contrária aos acordos firmados em Havana e prossegue trabalhando e negociando com as multinacionais. Além disso, o presidente segue impulsionando os tratados de livre comércio e outras iniciativas, que prosseguem promovendo a impunidade para os agentes estatais no conflito armado. Eu acho que se você quiser fazer a paz você tem que ter uma política coerente tanto na política internacional como na política doméstica.

OM: Qual é a importância da Venezuela nesse processo de paz?
IC: Acredito que tenha sido fundamental, principalmente na gestão de Hugo Chávez, na época, ajudado pelo então ministro das Relações Exteriores Nicolás Maduro. Ambos procuraram aproximar as partes, fazendo a mediação para propiciar o entendimento entre as FARC e o governo colombiano acerca de uma série de temas cruciais para paz na Colômbia.

OM: O senhor acredita que existe um plano de desestabilização contra a Venezuela?
IC: Na Colômbia, alguns setores apoiaram o golpe de 2002 contra Chávez. Foi a Colômbia também que recebeu e protegeu Pedro Estanga Carmona, organizador do golpe de Estado. Além disso, foi denunciado e constatado que existia um grupo paramilitar pronto para agir na Venezuela, cujos homens foram identificados e presos perto de Caracas. Portanto, não é uma acusação ou uma hipótese: estou falando de fatos concretos.

OM: Desde a eleição de Santos, as relações entre Colômbia e Venezuela têm sido fundamentais. O senhor acredita que existe o risco de retorno de uma situação de crise, como foi no último governo de Uribe?
IC: Essa situação pode ser solucionada, não é uma nova crise. A Colômbia se comportou de uma forma que vai na contramão dos interesses do país. Eu espero que o governo, se realmente quer avançar e fazer um novo capítulo na história do país, corrija o gravíssimo erro de ter dado voz no país para a oposição venezuelana.

OM: A oposição venezuelana é democrática?
IC: Eu acredito que eles têm utilizado métodos que não são transparentes e, em varias ocasiões, têm atuado para bloquear os procedimentos democráticos. Uma oposição democrática não tenta dar golpes de Estado. Isso não é próprio de quem quer seguir as regras e os procedimentos democráticos.

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