sexta-feira, 7 de junho de 2013

Colômbia quer entrar na OTAN, mas brinca com o fogo

A notícia de que a Colômbia espera aprofundar as relações com a OTAN soou na América Latina como uma bomba, causando descontentamento de todos os jogadores regionais, sem exceção.


O desvio da Colômbia para o lado da OTAN não foi assim tão inesperado para os observadores mais atentos. No entanto, a ideia de “filiação associada” à Aliança foi recebida com hostilidade por, talvez, todas as forças políticas regionais. O redator chefe da revista Latinskaya America (América Latina), Vladimir Travkin, comenta a situação.

“Do ponto de vista dos latino-americanos, que já protestam, é uma tentativa de impor uma força externa, que irá influir sobre os acontecimentos na América Latina, provavelmente de forma não muito positiva. A OTAN é um bloco militar, digam o que disserem, e atua da forma correspondente. Deve-se dizer que na própria Colômbia também não há unidade nesta questão. Agora na Colômbia realizam-se conversações entre os guerrilheiros e o governo. A guerra civil dura há mais de 50 anos e não conseguem resolver este conflito de modo algum. O caminho de sua solução não é militar, isto está claro. E é pouco provável que qualquer complicação externa favoreça a Colômbia.”

A Colômbia chocou-se com um muro da incompreensão de modo perfeitamente justo. A América Latina está cheia de contradições. Fala o vice-diretor do Instituto da América Latina, professor do Instituto Estatal das Relações Exteriores de Moscou, Boris Martynov.

“A região tem seus problemas, suas estruturas, suas aspirações. Caso isso aconteça, as relações com o Brasil se agravarão, porque o Brasil se considera, e é de fato, o líder da América Latina. O Brasil constrói alianças: econômicas e na esfera da segurança. Existe o Conselho de Defesa Sul-Americano, em que entra também a Colômbia. A ideia da OTAN não agrada ao Brasil. Quando a Argentina recebeu o status de membro associado fora dos limites da Aliança, o Brasil expressou oficialmente seu descontentamento. Porque tudo isto ocorreu sem consultá-lo. O Brasil declarou um protesto à Argentina e as relações esfriaram por algum tempo. O mesmo pode ocorrer agora. Pode começar uma certa cisão nos esquemas de integração. Em geral isto não parece bonito.”

Os receios dos países latino-americanos são compreensíveis. Mas para começar é necessário mudar o documento básico – o Tratado do Atlântico Norte de 1949 (onde preto no branco está escrito que pode ser membro da OTAN “qualquer país europeu, capaz de dar sua contribuição para a segurança da região”). E esta é uma longa história.

O mais provável é que se trate de uma tentativa de testar a opinião pública mundial em relação às perspetivas da OTAN. Ora, os colombianos não esperavam uma reação tão forte a essa informação. Tem a palavra novamente Boris Martynov.

“Aqui, pelos vistos, verifica-se a intenção de o país se aproximar mais estreitamente dos EUA, apesar de as relações já serem bastante calorosas. Nós sabemos que em Washington, na época de Clinton, surgiu o “Plano Colômbia”, quando os EUA prestaram ajuda no combate à “esquerda” colombiana. Além disso, as conversações do governo com os guerrilheiros agora realizam-se com um êxito variável. Os colombianos não são crianças, não nasceram ontem. Eles entendem muito bem que entre a declaração de disposição de aproximação à OTAN e as consequências práticas há uma grande distância. Ainda mais que o país está fora dos limites marcados com precisão no tratado do Atlântico Norte – é um disparate jurídico.”

Alguns especialistas veem nas ações de Bogotá um certo desespero. Parece que ela usa de tudo o que lhe aparece – inclusive métodos de pressão informativa e psicológica. Como se diz – na luta com os rebeldes todos os meios são bons. Entretanto, os colombianos brincam com o fogo. A possível perda mesmo de parte da soberania abalará ainda mais a situação no país. Não se exclui que estejamos presenciando o primeiro ato da tragédia de desmoronamento do estado colombiano.

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