quarta-feira, 19 de junho de 2013

Análise: resposta russa à militarização do Ártico



Andrei Smirnov

A crescente atividade militar da Rússia na região ártica é uma resposta a ações de países ocidentais. Segundo peritos, a Rússia corre o risco de se atrasar em relação ao ritmo de militarização da região por parte dos Estados Unidos e dos seus aliados da OTAN.


A reunião do Conselho Ártico em nível de chefes de Estados-Maiores Generais motivou novas reflexões sobre a militarização do Ártico. O evento coincidiu com ações dinâmicas da Força Aérea da Rússia no norte e noroeste do país. Como consequência, o fórum começou com acusações apresentadas pela Finlândia: segundo os dados de Helsinque, dois aviões russos sobrevoaram águas territoriais finlandesas. O Ministério da Defesa da Rússia declarou, porém, que pilotos russos observavam a necessária distância até a fronteira. Ao mesmo tempo, a Rússia não esconde ter intensificado a atividade militar na região polar. Moscou anunciou oficialmente que em 11 de junho foi inspecionada a disposição combativa das bases aéreas situada na Carélia e nas regiões de Leningrado e de Murmansk.

O número de inspeções da capacidade operacional das Forças Armadas russas irá crescer, e já foram aprovadas as bases da política estatal da Rússia no Ártico. Segundo o documento, na região serão formados destacamentos árticos, será desenvolvida a infraestrutura militar e haverá reforços na região da s fronteiras. Há muito tempo países da OTAN se mostram interessados na região do Ártico, sobretudo nos últimos anos, quando se tornou evidente que o clima está mudando e os gelos árticos estão derretendo. A partir de 2007, tornaram-se regulares manobras militares conjuntas na área – as Operações Nanook, com a participação da Dinamarca, do Canadá e dos Estados Unidos. Em 2009, sob a égide da mesma OTAN, Aconteceram manobras multinacionais Loyal Arrow . No ano passado, mais de 16 mil militares dos países do bloco participaram nos exercícios Cold Response. Washington não esconde que o Ártico é considerado como um novo campo de batalha estratégico.

A causa da “agiotagem ártica” está clara: o degelo não apenas abre acesso a enormes reservas de hidrocarbonetos e de outras matérias-primas, mas também à Rota Marítima do Norte, o caminho mais curto da Europa para a Ásia. Mas a concorrência pode impedir o aproveitamento destas riquezas, sustenta o vice-diretor de pesquisas do Conselho para a Política Externa e Defensiva da Rússia, Dmitri Suslov: “devemos nos preparar para uma escalada de tensão no Ártico e uma certa corrida armamentista. É uma tendência triste, porque neste caso estamos dividindo a pele de um urso não abatido. Trata-se de reservas não investigadas – não conhecemos de fato suas potencialidades. Mesmo se estes recursos existirem, hoje em dia a sua extração é muito cara e economicamente não motivada. As partes deveriam despolitizar as relações e chegar à cooperação no Ártico. Um exemplo é a cooperação entre a Rosneft russa e a ExxonMobil americana. Mas a militarização do Ártico forma um clima político negativo, que impede a realização de projetos desse tipo”.

Infelizmente, o Centro Ártico de Projetos Científicos, formado recentemente pela Rosneft e a ExxonMobil, é um dos poucos exemplos da cooperação no aproveitamento de riquezas do pólo norte. Enquanto a “confrontação ártica” não se transformar num “diálogo ártico”, a Rússia terá de reforçar consideravelmente suas posições na região, afirma Mikhail Khodarenok, membro do Conselho Social junto da Comissão Industrial-Militar do Governo da Rússia: “nos tempos soviéticos, a presença militar no Ártico foi muito sensível, mas a situação mudou drasticamente nos anos 1990. Podemos até dizer que há a formação de uma frente ártica antirussa unida em países da Europa do Norte, nos Estados Unidos e no Canadá.”

Mesmo os países afastados revelam interesse. A China, por exemplo, posiciona-se como um “país próximo ao Ártico”. O Conselho Ártico integra cada vez mais “observadores” que insistem na concessão de um regime internacional na região, por analogia com a Antártica. Mas a Rússia tem o território mais extenso ligado a mares árticos. Moscou tem interesses econômicos, energéticos e militar-políticos mais urgentes em comparação com outros países como a Dinamarca, o Canadá, a Noruega e os Estados Unidos.

FONTE: Voz da Rússia (adaptação do Poder Naval)

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