Começou com centenas de protestos pacíficos resistindo à demolição do Parque Gezi, um dos poucos espaços verdes do centro de Istambul. Um projeto de destruir o parque e construir um shopping centre no local — entre os muitos existentes em Istambul — motivou o ativismo e a revolta da população, que utiliza ativamente o parque.
VEJA O MAPA EXPLICATIVO:
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A resposta da polícia aos protestos foi claramente despótica e violenta, o que motivou uma reação em toda a Turquia em pouquíssimos dias. O que é possível ver desde o início do dia 30 de maio é uma reivindicação dos moradores de Istambul a serem cidadãos de sua própria cidade, além de uma rebelião clara contra o autoritarismo do governo islamista conservador neoliberal turco.
Centenas de milhares de pessoas de todas as idades e agendas políticas se uniram em slogans como “ombro ao lado de ombro contra o fascismo”, clamando pela renúncia do Primeiro Ministro turcoRecep Tayyip Erdoğan. Os protestos rapidamente se espalharam de Istambul para Ankara, İzmir, Adana, Eskişehir, Samsun, Konya, Mersin e muitas outras cidades, apesar de os ataques brutais vindos do governo.
Desde o começo dos protestos, o governo turco usou canhões de água e gás lacrimogênio contra a população. As ruas de Istambul e de outras cidades se tornaram campos de batalha; centenas foram hospitalizadas, e há várias mortes não confirmadas. Enquanto a onda de protestos assolava o país, houve um “blecaute” de informações por parte da mídia turca. A censura da mídia turca aumentou fortemente nos últimos anos. De acordo com os Repórteres Sem Fronteiras em seu relatório de 2012, a Turquia se tornou “a maior prisão para jornalistas do mundo”. Protestantes, entretanto, têm-se mobilizado na mídia informal desde os últimos meses.
Apesar de as constantes ameaças de uma forte e bem-armada polícia turca, as pessoas tomaram as ruas sem medo. Este protesto não acaba, e é histórico para a Turquia; não só porque as pessoas insistem cada vez mais — e em números cada vez maiores — em tomar as ruas, mas porque ele representa a esperança em um movimento popular genuíno que vai além das tradicionais facções políticas.
Polícia usa gás lacrimogênio e balas de borracha para dispersar uma manifestação pacífica. (Istambul, Turquia, sexta-feira, 31 de maio de 2013) |
Os manifestantes do movimento #OccupyGezi (uma alusão ao movimento Occupy Wall Street, resistência às políticas conservadoras nos EUA e a forte desigualdade socioeconômica no país, iniciado em 2011) não são um grupo homogêneo. Eles são milhões de pessoas de todo o país, jovens e velhos, esquerdistas e nacionalistas, liberais e kemalistas, de classe média e classe baixa, crentes e ateus, gays, lésbicas, transexuais e fãs de futebol, todos juntos em uma demanda coletiva — o fim do autoritarismo do AKP (o Partido da Justiça e Desenvolvimento, islamista conservador que atualmente detém o governo da Turquia). Não há uma organização política central que atrai as pessoas ao protesto, mas sim grupos de pessoas que espontaneamente se juntam ao ato em uma clara demonstração de solidariedade.
O protesto alinha essas pessoas. O afeto de estar juntos na revolta une os manifestantes. O desejo de acabar com o autoritarismo e a brutalidade policial motiva-os à revolta. O desejo de preservar os espaços públicos e resistir à sua apropriação pelo capital local e global os dá poder.
Qual é a cara do governo de Erdoğan?
O governo de Erdoğan começou com uma cara aparentemente pacífica e conciliatória, fazendo acordos não só com a União Europeia, mas com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que tem um conflito há anos com o governo turco. Também cedeu às demandas dos marginalizados curdos, ao oficializar o ensino de curdo nas escolas, permitindo o uso da língua curda na televisão e devolvendo os nomes curdos às cidades renomeadas pela língua turca.
Em seu segundo e terceiro mandatos, apesar das melhorias trazidas como resultado do primeiro mandato, o governo desistiu do processo de democratização apoiado pela União Europeia, e tornou-se cada vez mais autoritário sobre a liberdade de imprensa, sobre os direitos das minorias curdas e sobre os poderes políticos outrora dominantes em Ancara. A iniciativa democrática sobre os direitos das minorias curdas, liderado por Erdogan, está parada. Mais de cem jornalistas foram presos.
Erdoğan também prendeu uma série de estudantes universitários que pediam por educação pública e de qualidade, que foram acusados de serem membros de organizações internas ilícitas. Também, membros da comunidade LGBT foram reprimidos e ofendidos pelo parlamento, por manifestarem a favor do reconhecimento do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Uma das outras controvérsias é a proibição do uso do álcool devido a observâncias religiosas, algo inconcebível uma autointitulada democracia laica.
O que é o #OccupyGezi
O movimento Occupy Gezi começou por meio de uma manifestação da população contra a demolição de um parque público (chamado Gezi) no centro de Istambul. Os objetivos do governo turco eram de demolir a área, reconstruir um prédio feito por um antigo sultão otomano (Salim III) e convertê-lo num shopping centre à láboulevard.
Convertido posteriormente em uma página de Facebook, convocando as pessoas para protestar, o Occupy Gezi possui cerca de 24,000 fãs (em uma página chamada Occupy Istanbul).
Na página do Occupy Istanbul, há uma enorme quantidade de fotos e vídeos enfiados pelos participantes dos protestos ao redor do mundo. Uma série de manifestações foi feita em toda a Europa e nos Estados Unidos. Há vários vídeos caseiros mostrando abusos policiais nos bairros residenciais de Istambul, ataques em Universidades e ataques com bala de borracha.
Na página do Occupy Istanbul, há uma enorme quantidade de fotos e vídeos enfiados pelos participantes dos protestos ao redor do mundo. Uma série de manifestações foi feita em toda a Europa e nos Estados Unidos. Há vários vídeos caseiros mostrando abusos policiais nos bairros residenciais de Istambul, ataques em Universidades e ataques com bala de borracha.
De acordo com o New Yorker, durante o curso da [primeira] semana [de protesto], o Occupy Gezi deixou de ser um festival, com yoga, churrascos e shows para se tornar o que parece uma guerra, com barricadas, balas de borracha e ataques de gás.
GALERIA DE FOTOS
(REPRODUÇÃO: TWITTER) Foto amplamente reproduzida por turcos no Twitter ensina a criar máscaras de gás, visando proteger-se da polícia turca durante os protestos. |
(AP) Um homem é visto usando uma máscara de gás caseira horas antes do uso de gás lacrimogênio pela polícia turca. (Istambul, Turquia, quinta-feira, 30 de maio de 2013) |
(AP) Pessoas tentam proteger-se do gás lacrimogênio jogado pela polícia turca. (Istambul, Turquia, sexta-feira, 31 de maio de 2013). |
(AP) Manifestantes fogem de ataques. (Istambul, Turquia, sexta-feira, 31 de maio de 2013) |
(REPRODUÇÃO: TUMBLR) Cartaz questiona a autoridade do Primeiro-Ministro, que “é o servo do povo, não seu mestre” . |
(REPRODUÇAO: TUMBLR) Manifestantes do Partido Comunista Turko (TKP) em Istambul. (sexta-feira, 31 de maio de 2013) |
(REPRODUÇÃO: TUMBLR) Pessoas deixam comidas livremente para manifestantes, no Parque Gezi. (Istambul, 31 de maio de 2013) |
(REPRODUÇÃO: TUMBLR) Pessoas participam espontaneamente de um mutirão de limpeza no Parque Gezi. |
[Continuação] Pessoas participam do mutirão de limpeza. |
(REPRODUÇÃO: TUMBLR) Cartaz diz: "na improvisação de cada; na resistência de cada" (Istambul, 31 de maio de 2013) |
AO REDOR DO MUNDO:
Protestantes em Berlim, Alemanha (1 de junho de 2013)
(REPRODUÇÃO: OCCUPY ISTANBUL) Pessoas protestam em apoio aos turcos em Dublin, Irlanda. (1 de junho de 2013) |
(OCCUPY ISTANBUL) Protesto de apoio em São Francisco, EUA. (1 de junho de 2013) |
(PROTESTIVAL) Manfiestantes em frente à embaixada da Turquia. (Ljubljana, Eslovênia, 1 de junho de 2013) |
(OCCUPY ISTANBUL) Alicante, Espanha |
(IPEK ERDALLI) Turcos em Melbourne, Austrália (1 de junho de 2013) |
(BUSE KUŞATAN) Viena, Áustria (1 de junho de 2013) |
(BARIŞ KILIÇBAY) Filadélfia, EUA.
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(SİMAY ÖÇAL) Lisboa, Portugal. (1 de maio de 2013) |
(OCCUPY ISTANBUL) Estrasburgo, França. (1 de junho de 2013) |
(LIONEL MA) Paris, França. (1 de junho de 2013) |
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http://bit.ly/15fAHLE (CNN TURQUIA)
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http://www.huffingtonpost.com/2013/06/01/istanbul-protests_n_3372059.html?utm_hp_ref=fb&src=sp&comm_ref=false(Huffington Post)
http://bit.ly/17NcqBN (Hurriyet Daily News)
http://bit.ly/vSEijK (Index on Censorship)
http://bit.ly/11NLzlL (Milliyet)
http://nyr.kr/19wX5DC (The New Yorker)
http://bit.ly/11xeWm6 (Repórteres Sem Fronteiras)
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http://reut.rs/123Ywcs (Reuters)
http://bit.ly/Al39Ad (Turkish Weekly)
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