Governo do Brasil admite aumento de gastos com o Mundial do ano que vem. Valores já chegam a R$28 bilhões
Jamil Chade
Em meio a protestos nas ruas das cidades brasileiras, o governo admite que a Copa do Mundo ficará mais cara que se previa há apenas dois meses.
Um levantamento feito pelo Estado aponta que, diante dos números oficiais do próprio governo, a Copa em 2014 será a mais cara da história, três vezes mais que a de 2006 ou quatro vezes o que foi gasto em 2010. Os lucros para a Fifa também serão recorde e já dobraram em relação à previsão de 2011.
Em abril, o governo estimava que a Copa teria um custo total de R$25,5 bilhões. Ontem, o secretário executivo do Ministério dos Esportes, Luis Fernandes, anunciou que, na revisão que o governo fará em julho, o valor subirá para R$ 28 bilhões, um aumento de mais de 10%. Se comparado com previsões de 2011, o valor já é R$ 6 bilhões acima, uma inflação de 27%.
Nem ele nem o governo explicaram a elevação. Mas o discurso adotado é de que o valor ainda está a baixo do teto que se estabeleceu em 2010, de R$5 33 bilhões. Alguns dos motivos seriam o incremento no valor do Maracanã e do estádio em Brasília.
Originalmente, os estádios custariam R$5,5 bilhões. Agora, a previsão é de mais de R$ 7,1 bilhões. Só o custo do estádio de Brasília já o coloca entre os dez mais caros no mundo.
Fernandes e a própria Fifa insistem ainda em alertar que as obras não serão apenas para a Copa e que o investimento será em infraestrutura, mobilidade urbana e outros setores.
Em entrevista à TV Globo, o presidente da Fifa, Joseph Blatter disse que foi “o Brasil que pediu essa Copa do Mundo. Nós não impusemos ao Brasil este Mundial Eles sabiam que para ter uma boa Copa do Mundo naturalmente teriam que construir estádios. Mas nós dizemos que não é apenas para a Copa. Junto com os estádios há outras construções: rodovias, hotéis, aeroportos… São itens do legado para o futuro. Não é apenas para o Mundial”, disse.
Para Fernandes, “a Copa alavanca investimentos em saúde, educação, meio ambiente e outros setores”, disse, “É muito mais fácil liberar recursos com Copa que em outro momento”, explicou. “Ou aproveitamos esse momento para o desenvolvimento do País, ou perdemos essa oportunidade histórica.”
Para ele, não existe uma “oposição generalizada” no Brasil em relação à Copa e alerta que possa haver “setores desinformados, que não estão recebendo informações.adequadas”. “Até, acima de uma oportunidade para investir e gerar o desenvolvimento no Brasil. Serão investimentos que irão servir melhor à população”, avalia.
Segundo ele, dos R$ 28 bilhões, RS 9 bilhões serão para o transporte público e 51 obras de mobilidade urbana em todo o País. Do total, porém, apenas uma parte será dinheiro privado, cerca de R$ 3,8 bilhões.
Já o Comitê Local aponta que organizar o Mundial vale a pena” e usa um estudo de uma consultoria para apontar que os investimentos irão gerar um fluxo de R$ 112 bilhões no Brasil, incluindo um aumento de renda de R$ 63 bilhões.
Em comparação a outros Mundiais, o projeto no Brasil também é o mais elevado. Em 2006, a Alemanha gastou na época € 3,7 bilhões para sediar o que muitos apontam como a melhor Copa – aproximadamente R$ 10,7 bilhões.
Em 2002,110 Japão e Coreia, o gasto de ambos países juntos chegou a US$ 4,7 bilhões, cerca de R$ 10,1 bilhões. Na África do Sul, em 2010, o custo foi de US$ 3,5 bilhões – R$ 7,3 bilhões.
Enquanto os custos no Brasil aumentam, a Fifa também vê explodir seus lucros com a Copa. Em 2011, na primeira avaliação realizada, a Fifa estimava que gastaria US$3,2 bilhões para organizar o Mundial e que teria uma receita de US$ 3,6 bilhões.
Agora, os números reais já superam qualquer expectativa. Jerome Valcke, secretário-geral da entidade, admitiu que a renda irá superar a marca de US$ 4 bilhões, dobrando o lucro da Fifa com o evento. O governo ainda vai dar isenções de impostos no valor de R$ 1 bilhão.
O lucro no Brasil é mais de duas vezes superior ao que a Fifa obteve com a Copa de 2006 na Alemanha e três vezes o valor da África do Sul.
Outro lado. Oito horas depois de fazer a declaração e não explicar, o governo soltou uma nota negando o aumento no orçamento, já que ainda estaria dentro dos R$ 33 bilhões de teto. “Não houve, portanto, aumento de orçamento, e sim evolução nos investimentos”, apontou o governo em nota.
FONTE: O Estado de São Paulo
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