Candidato brasileiro na OMC quer destravar rodada de Doha e combater "protecionismo"
Roberto Azevêdo se distancia de posição brasileira sobre comércio exterior, e é contra proteção à economia nacional
Sandro Fernandes/Moscou
O embaixador Roberto Carvalho de Azevêdo, candidato do Brasil ao cargo de diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), coloca a necessidade em destravar a rodada de Doha como a principal necessidade da instituição. Em campanha pelo mundo, ele se encontra em Moscou nesta segunda-feira (04/01), onde foi recebido pelo primeiro vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Andrei Denissov, em busca de apoio para a candidatura.
Em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (04/01) na capital russa, o embaixador falou sobre a importância em avançar as negociações do sistema multilateral de comércio, como a própria rodada, ressaltando que “há vinte anos” o mundo não obtém “nenhum resultado” no âmbito da organização.
“A OMC é maior do que a rodada, mas enquanto este impasse não for solucionado, todo o sistema tende a ficar paralisado”. A Rodada de Doha é uma ciclo de negociações multilaterais iniciadas em Doha, no Qatar, em 2001, que defende a liberalização do comércio mundial, diminuindo barreiras comerciais e medidas de proteção econômicas nacionais. No entanto, os interesses de cada país, principalmente na proteção ao setor agrícola, impediram que as negociações avançassem.
Azevêdo tem buscado se distanciar da posição brasileira sobre o comércio exterior, tida como protecionista pelos países ricos, para evitar que isso prejudique a sua candidatura. “Como diretor-geral da OMC, eu não estarei avançando (sic) uma agenda brasileira, mas uma agenda dos membros como um todo”, enfatizou em duas ocasiões.
A inclusão de novos temas na agenda da OMC também foi defendida pelo embaixador. “O mundo tem mudado e há temas que precisam ser discutidos, como meio ambiente e comércio, energia e comércio. O que tem travado as negociações é o acesso aos mercados”.
A Rússia entrou oficialmente na OMC em agosto de 2012, depois de 18 anos de negociações, tornando-se o 156° membro da organização. Segundo Azevêdo, a articulação com os Brics é importante para o “amadurecimento” russo no grupo. O embaixador disse ainda que o G20 (presidido pela Rússia em 2013) é “uma peça importante do sistema de governança mundial, sobretudo nos aspectos econômicos, comerciais e financeiros”.
Quando questionado sobre a previsão de crescimento do Brasil e da Rússia, o embaixador brasileiro preferiu ser cauteloso, afirmando que qualquer previsão é sempre arriscada, mas declarou que “países como o Brasil e a Rússia estão em condições de manter taxas de crescimento saudáveis num patamar atual ou superior, principalmente se os preços das commodities continuarem no mesmo nível”.
A utilização das moedas nacionais para transações internacionais também foi defendido por Azevêdo. Para ele, o uso de moedas tradicionais (dólar e euro) em detrimento das moedas nacionais é uma cultura das empresas privadas, que tendem a indexar as transações a estas moedas. O embaixador citou ainda que “a estabilização do valor das moedas nacionais, evitando oscilações cambiais muito fortes e dando previsibilidade às negociações bilaterais” é um primeiro passo para avançar nesta questão.
Como Rússia e Brasil são dois grandes fornecedores mundiais de commodities, o embaixador destacou a importância de que o sistema produtivo nacional seja capaz de atender a uma crescente demanda mundial, principalmente no setor de alimentos. “A melhor defesa contra medidas protecionistas é a própria OMC”, lembrando que, com a crise financeira de 2008, esperava-se um acirramento das medidas protecionistas, mas “uma das forças para conter este protecionismo foi a organização”.
Ele ainda acredita que os países africanos, “sobretudo os mais pobres”, seriam os grandes vencedores de uma rodada ampla e ambiciosa de negociações comerciais.
O candidato brasileiro à direção geral da OMC acredita ainda que o Brasil como membro dos Brics, tem procurado uma aproximação crescente com a Rússia e outros integrantes do bloco, mas faz uma ressalva: “Somente unidos, tanto na OMC quanto no G20, os Brics serão um fator importante no processo decisório e na definição de conceitos para a governança global”.
Em 2011, o Brasil levou à OMC uma queixa contra o a política da China de desvalorização cambial do yuan, considera pelo governo brasileiro como uma medida protecionista.
Votação
A escolha do novo diretor-geral começa no dia 1° de abril e termina no dia 31 de maio. Além do brasileiro, competem representantes do México, da Costa Rica, de Gana, do Quênia, da Coreia do Sul, da Indonésia, da Nova Zelândia e da Jordânia.
Na América do Sul, segundo Azevêdo, “a candidatura brasileira foi bem recebida e alguns países se comprometeram em apoiar o Brasil”. No entanto, não houve nenhuma tentativa de um apoio regional completo a nenhuma das candidaturas da região.
O diretor-geral da OMC é eleito para um mandato de quatro anos, podendo ser reeleito. “Não sei se há um limite estatutário de dois mandatos. Por enquanto, só penso no primeiro mandato”, explica o candidato brasileiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário