quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Sindicatos convocam marcha contra congelamento de preços na Argentina


Sindicatos convocam marcha contra congelamento de preços na Argentina
Opositores acreditam que retenção serve como camuflagem da inflação real e limitação de reajustes salariais

As duas principais centrais sindicais argentinas, ambas de oposição, convocaram dois protestos para os dias 8 e 14 de março, com o objetivo de pedir mais planos de ajuda social e o direito de negociar aumentos salariais “sem teto”.

A decisão da CGT (Confederação Geral do Trabalho) e da CTA (Central de Trabalhadores da Argentina) foi anunciada na mesma semana em que o governo fecha acordos de congelamento de preços, por dois meses, com algumas redes de supermercados, lojas de eletrodomésticos e eletrônicos, postos de gasolina e lojas de conveniência.


Para os sindicalistas, o congelamento se trata de uma medida para camuflar a inflação real e limitar os reajustes salariais. Os sindicatos informaram que pedirão ajustes salariais muito acima da inflação calculada pelo governo, que foi 10,8% em 2012. "Concordamos com a sugestão do governo de negociar o aumento salarial pelo prazo de um ano, mas levando em conta a inflação do carrinho de supermercado e do nosso próprio índice de preços", disse Antonio Caló, da UOM (União Operária Metalúrgica), que estima que a inflação de 2012 foi 25%.

O secretário-geral da CGT, Hugo Moyano, informou nesta terça-feira (05/02) que os sindicatos da agremiação pedirão ajustes de "30% porque a inflação está meio descontrolada". Até recentemente um dos principais aliados do governo, também disse que “com o congelamento de preços, por 60 dias, o governo tem a intenção de colocar um teto aos pedidos de aumento salarial e isso nós vamos rejeitar”.

Nessa quarta-feira (06/02), os supermercados chineses – que são menores, mas cada vez mais numerosos – anunciaram adesão à proposta do secretário do Interior, Guillermo Moreno, de manter os preços fixos até 1° de abril. Existem 10 mil supermercados chineses em toda a Argentina e eles têm até cartão de crédito próprio para competir com as grandes cadeias. O congelamento de preços temporário é voluntário, mas quem não aderir corre o risco de perder fatias do mercado.

A subsecretária de Defesa do Consumidor, Maria Lucila Colombo, recomendou aos consumidores argentinos que guardem os comprovantes de compras e denunciem aumentos abusivos. Segundo ela, o congelamento temporário de preços foi proposto para ajudar a “economia familiar”.

Em discurso recente, a presidente Cristina Kirchner disse que "já está demonstrado com a história que obrigar e negocias preços não dá certo".

Salários e escola

Na Argentina, os reajustes salariais são decididos nas chamadas “paritárias” - acordos negociados entre trabalhadores e empresários que precisam ser ratificados pelo Ministério do Trabalho. Apesar de a inflação oficial girar em torno de 10% ao ano, o governo tem concedido aumentos superiores. “Ao fazer isso está, de certa forma, reconhecendo que a inflação real é maior que a oficial”, disse àAgência Brasil o ex-ministro da Economia (de Nestor e Cristina Kirchner), Roberto Lavagna.

Apesar disso, este ano, o governo não quer conceder aumentos superiores a 20% e os sindicatos, baseando-se no que chamam “índice do supermercado”, pediam mais.

O congelamento de preços temporário também coincide com a volta às aulas, no fim de fevereiro. É o momento em que as famílias argentinas mais sentem o peso da inflação: terminadas as férias, é hora de fazer matrícula e comprar material escolar. “Mudei minha filha de creche porque, no ano passado, a mensalidade praticamente duplicou e as vagas no sistema público, além de escassas, são difíceis de conseguir. Tive que colocá-la em uma creche privada para poder trabalhar”, disse a empregada doméstica Nancy Garcia.

"O congelamento para frear a inflação só serve se vier acompanhado por uma mudança confiável na política econômica para torná-la consistente. Acho que esse não é o caso argentino hoje. Até o momento, os sindicalistas não moderaram seus pedidos salariais depois do anúncio do congelamento", disse o economista Matias Carugati, da consultoria Management&Fit. "A crise no setor de construção, no setor de compra e venda de imóveis e a inflação, palavra tabu para o governo, fazem parte dos motivos da desconfiança dos argentinos, o que reflete na alta do dólar no paralelo", acrescentou o economista.

Dólares e turismo

Para escapar da inflação, os argentinos voltaram ao antigo hábito de poupar em dólar. No entanto, no ano passado, o governo impôs controles de câmbio: quem quiser comprar moeda estrangeira precisa pedir aprovação da Afip (Receita Federal argentina). O governo também bloqueou saques, com cartões de débito de bancos argentinos, no exterior. E impôs uma taxa adicional para quem usar o cartão de crédito fora do país.

Ainda assim, os voos para destinos como o Caribe estavam lotados em janeiro – mês em que a maioria dos argentinos foge das cidades em busca de praias de água quente. “Foi por causa da inflação e do controle ao dólar”, explica Ana Catolino, que trabalha em uma agência de viagens de Buenos Aires. “Desde que limitaram a compra de dólares, nossos clientes têm usado o cartão para comprar pacotes de turismo com tudo incluído, muitos deles em resorts no Caribe ou no México”. Os pacotes são vendidos, de forma parcelada, em pesos argentinos – ao câmbio oficial. No mercado paralelo (que surgiu com o controle de câmbio), o dólar vale quase oito pesos, enquanto no oficial, cinco.

A inflação oficial é motivo de polêmica na Argentina desde 2007 e é criticado por economistas independentes e o Fundo Monetário Internacional. Este ano, o governo trocou o comando do Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos), que divulga o índice, e vieram à tona críticas de oposicionistas e funcionários do instituto que dizem que há manipulação dos números. O governo, porém, nega as acusações.

* Com informações de Agência Brasil, La Nación e El Liberal Via: Opera Mundi

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