Jornal da cidade americana de St Louis, onde a Boeing fabrica o Super Hornet, questiona se o primeiro voo do drone X-47B aponta para o final da produção do caça – Já a Boeing aposta em novas encomendas, o que inclui Austrália e Brasil, para manter a linha aberta por mais tempo
A decolagem do drone (aeronave não tripulada) X-47B do convoo de um porta-aviões da Marinha dos EUA (USN), na quinta-feira passada, é um fato que eventualmente poderá afetar uma das maiores fábricas na área de St. Louis, segundo reportagem de domingo (19 de maio) do jornal STL Today.
O evento foi considerado histórico, apesar do X-47B construído pela Northrop Grumman não ter ainda pousado num porta-aviões, o que é considerado um dos feitos mais difíceis na aviação. A USN espera que isso ocorra ainda em meados deste ano e que, por volta do final desta década, drones formem uma parte considerável da frota aérea de combate.
Tudo isso levanta algumas questões importantes sobre o futuro do caça que, hoje, forma a maior parte da frota aérea de combate da USN, o F/A-18 Super Hornet.
O jato, assim como seu irmão E/A-18 Growler, de guerra eletrônica, é montado pela Boeing Co. no norte de St. Louis. Cerca de 5.000 pessoas trabalham no programa, de cuja linha de produção (a última grande linha de montagem de aeronaves na região) sai aproximadamente um jato por semana, por cerca de 55 milhões de dólares cada. Os drones prontos para o combate seriam competidores diretos.
Ainda levará anos até que o X-47B esteja pronto para produção em massa, e ninguém espera que ele substitua totalmente os jatos tripulados na frota da Marinha. Mas especialistas em defesa como James Lewis, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington, dizem que os caças robóticos estão inevitavelmente em ascensão.
Segundo Lewis, eles “não trazem risco para uma vida humana, para o piloto. Eles são mais furtivos. Se você consegue fazê-los trabalhar, farão o trabalho muito bem. Este será o futuro”. A USN ainda está determinando o que, exatamente, deseja com seu sistema não tripulado de ataque e vigilância aéra lançado de porta-aviões, ou UCLASS (Unmanned Carrier-Launched Airborne Surveillance and Strike system), como vem designando a indústria. Um porta-voz da Marinha disse esperar o lançamento de uma concorrrência para o contrato no ano que vem.
Porém, o protótipo X-47B já mostra algumas claras vantagens sobre o Super Hornet, a maior delas referente a remover o humano da equação, significando que pode voar por dias, e não somente por algumas horas. Isso é crucial para missões de vigilância, para as quais a Marinha deseja utilizar primeiro os seus drones. Ainda não há planos, no momento, para armá-los.
Segundo o especialista James Lewis, isso poderá mudar. Apesar de não ver caças tripulados serem descartados totalmente, ele prevê um futuro em que um jato tripulado lidera um esquadrão desses drones na batalha, para então recuar e deixar a batalha com eles. Assim, a Marinha acabará não precisando de uma frota completa dos dois tipos: “Cada drone a mais significa um avião a menos”, disse Lewis.
Por hora, a linha de montagem da Boeing parece estar segura. A empresa tem um contrato que vai até 2016 para produzir caças Super Hornet e aviões de guerra eletrônica Growler para a Marinha, e tem prolongado a duração da linha com vendas internacionais para a Austrália e, conforme as esperanças da empresa, para o Brasil.
Enquanto isso, a Boeing desenvolve novas tecnologias que espera ver resultar em mais encomendas de F/A-18, especialmente se atrasos e aumentos de preço continuem a afetar o F-35 “Joint Strike Fighter” (JSF – caça de ataque conjunto) da Lockheed Martin, considerado o eventual substituto para o Super Hornet na frota da USN. Segundo um pronunciamento da empresa, “há muito interesse em encomendas adicionais domésticas e internacionais. O Super Hornet continua a se desenvolver com novas capacidades da próxima geração”.
Além disso, alguém tem que produzir todos esses drones, o que será por si um trabalho multibilionário. A corrida já começou. A Northrop Grumman venceu a Boeing para o contrato de 1,4 bilhão de dólares por um protótipo, o X-47B que voou na quinta-feira. Porém, assim como diversos outros projetos não tripulados, a Boeing continua a trabalhar em seu próprio drone Phantom Ray, com recursos próprios. Isso permitiu à empresa entender melhor a tecnologia dos não tripulados, segundo a sua porta-voz Deborah VanNierop: “Estamos tarbalhando em UCLASS, mas ainda não divulgamos publicamente informações a respeito. Ainda não estamos nessa etapa.”
Ainda segundo VanNierop, ainda é cedo para saber onde esses drones da Marinha serão construídos, no caso da Boeing ganhar o contrato. Tudo isso vai começar a tomar forma ao longo do próximo ano, quando a USN lançar sua concorrência UCLASS. O Comando da USN quer os drones voando por volta de 2020, o que significa que o processo precisa ser iniciado.
Alguns analistas, porém, estão céticos. Richard Aboulafia, vice-president do Teal Group, uma empresa de consultoria em defesa da Virgínia, disse não ver uma grande vantagem para drones em relação a caças tripulados, ao menos por enquanto. Além disso, ele destacou que concorrências por contratos de defesa de alto custo tendem a se esvaziar.
Aboufalia explicou: “Precisamos manter o conceito em desenvolvimento, mas ao menos na minha opinião vai levar mais tempo do que o esperado. Eu imagino que a revolução do remotamente pilotado foi algo promovido além do seu real valor.” Se ele estiver certo, isso significaria, não importando o que aconteceu na última quinta-feira na costa da Virtínia, que pessoas vão continuar montando Super Hornets em St. Louis por muitos anos.
FONTE: STL Today (tradução e edição do Poder Aéreo a partir de original em inglês)
FOTOS: Marinha dos EUA (USN) e Boeing
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