O amadorismo do ministro da defesa em assuntos estratégicos ficou novamente evidenciado na medida em que, sem avaliação dos “contras”, muito mais pesados que dos “prós”, este aventa do Brasil vir a modernizar, com o suporte da indústria e das organizações militares do País, as forças armadas da Guiana e do Suriname.
Acontece que a composição do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) urge ser repensada. Criado para estabelecer política de defesa e estruturar sistema correlato para o subcontinente, a “inclusão Guiana/Suriname” é por si só inquietante, exigindo justificativa que, no mínimo, indique lógica palatável para o paradoxo: o primeiro país, embora autônomo, integra a Commonwealt, associação solidamente vinculada, é arriscado, à Grã-Bretanha; o segundo, mesmo independente, tem laços fortes com a Holanda que integra, como o Reino Unido, a União Européia. Seus habitantes, sem elos com os de origem luso-espanhola, não afiançarão lealdade à união sul-americana se ameaçados os cantões amazônicos daqueles. Além disso, se nem o “portunhol” falam, não são “hermanos”. Alerta! A marinha de sua majestade vai aportar no setentrião sul-americano lançando âncoras na Guiana. Quem mapear aqueles territórios vai se aperceber das avantajadas cabeças de ponte para o bote na Amazônia. Seria apenas para inglês ver? As tropas daquelas monarquias de quando em vez se adestram em suas ex-colônias.
Atenção! Precedem a admissão esdrúxula desses autênticos “estranhos no ninho” as declarações de mandatários de potências ostensivamente contestadoras da brasilidade amazônica. Na Inglaterra, pára-brisas de veículos ostentam a mensagem “salvem a Amazônia queimando um brasileiro”. Só estas inclusões comprometem o órgão desconexo, prematuro, criado na esteira de uma UNASUL que atropela o processo claudicante de estruturação do MERCOSUL. Governo, parlamentares, a sociedade enfim ainda não se flagrou do absurdo admitido. Os chefes de estado sul-americanos, mal assessorados por uma diplomacia carente de conhecimentos comezinhos sobre geopolítica, aliam à sua miopia estratégica anacrônica a falta de visão prospectiva para o cenário de ameaças descortinado face ao ecúmeno amazônico comum e aos recursos energéticos submersos de suas faixas oceânicas.
Nosso poder de dissuasão, que deve ser definitivo, precisa ser alcançado antes para só depois se pretender capitanear a estruturação de macro-organismos defensivos, e isto sem a participação de “cavalos de tróia”. Iniciativas do gênero, se antecedem este desiderato vital, são inconsistentes como castelos de areia erigidos por sobre nações que, para reciclarem material bélico, ainda negociam com os “mercadores da morte” dos próprios membros permanentes do Conselho de Segurança/ONU.
Fonte: A Critica/UOL
Autor: Paulo Ricardo da Rocha Paiva _ Coronel de Infantaria e Estado-Maior
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