terça-feira, 21 de maio de 2013

Economia dos EUA sofre com corte de gastos militares

Por Sergio Lamucci | De Washington


As despesas militares estão em queda forte nos EUA, causando um impacto negativo sobre o crescimento da economia, tendência que deve se manter ao longo dos próximos anos. A retirada das tropas americanas do Iraque no fim de 2011 e a perspectiva de saída do Afeganistão em 2014 explicam grande parte do recuo dos gastos com defesa, também afetados pelos cortes automáticos de despesas públicas de US$ 85,3 bilhões, que entraram em vigor em março, o chamado “sequestro”.

O HSBC estima que o tombo dessas despesas vai tirar 0,3 ponto percentual da expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e mais 0,3 ponto no ano que vem, projetando avanço da economia de 1,7% em 2013 e 2,5% em 2014. O Fundo Monetário Internacional espera expansão um pouco mais forte, de 1,9% e 3%, pela ordem.

Os gastos federais com defesa subiram com força entre 2001 e 2010, uma trajetória iniciada após os atentados de 11 de setembro 2001 e relacionada às guerras do Afeganistão e do Iraque, diz o economista-chefe do HSBC para os EUA, Kevin Logan. Em 2000, as despesas militares eram cerca de 3,7% do PIB, número que subiu até atingir 5,7% no terceiro trimestre de 2010, de acordo com números das contas nacionais americanas. De lá para cá, essas despesas recuaram, batendo em 4,8% do PIB nos três primeiros meses deste ano.

No primeiro trimestre de 2013, as despesas militares caíram 11,5% em relação ao trimestre anterior, em termos anualizados, na série livre de influências sazonais, uma queda que se seguiu a outra de mais de 22% no quarto trimestre de 2012. São sinais de que a trajetória de queda veio para ficar, ainda que possa haver aumento esporádico em um ou outro trimestre, já que o comportamento trimestral dessas despesas costuma ser errático, como destaca Logan.

Economista-sênior do Bank of America Merrill Lynch, Michelle Meyer diz, em relatório, que a tendência de queda nos gastos não é nova, tendo se iniciado em 2010, em decorrência da redução das operações de guerra. “Nos últimos dois trimestres, o ritmo de queda se acelerou, o que provavelmente reflete alguma antecipação dos cortes relacionados ao ‘sequestro’”, afirma Michelle. Os cortes automáticos de gastos passaram a vigorar apenas em março, mas ela – assim como Logan – considera que algumas agências federais podem ter iniciado a contenção de despesas um pouco antes.

“Nós acreditamos que haverá reduções adicionais daqui para frente, esperando que os gastos com defesa continuem a declinar nos próximos trimestres”, diz Michelle. Dos US$ 85,3 bilhões de cortes previstos entre março e setembro, quando se encerra o ano fiscal de 2013, metade se refere a despesas militares. Se não houver mudanças na legislação, o “sequestro” continua até 2021.

Logan nota que boa parcela das despesas federais americanas são transferências, em que o governo desloca recursos de uma parte da economia para outra. Os impostos sobre a folha de pagamento, por exemplo, levam recursos dos trabalhadores para os aposentados, por meio da Previdência Social. No cálculo do PIB, os gastos dos aposentados são registrados como despesas de consumo, e não do governo. O mesmo vale para vários outros programas, diz Logan, citando o Medicare (o sistema de saúde para idosos) e o Medicaid (o sistema para os mais pobres).

Nesse cenário, grande parte do impacto direto dos gastos do governo federal sobre a economia ocorre por meio das despesas militares, destaca ele. As expansões e contrações nos gastos com defesa nas últimas cinco décadas são a principal explicação para os ciclos de longo prazo das despesas federais. Em meados dos anos 1960, houve uma expressiva alta dos gastos do governo americano por causa da guerra do Vietnã, que depois se tornou um peso sobre o PIB à medida que as despesas com as operações militares perderam força no começo dos anos 1970.

No fim daquela década, os gastos militares voltaram a aumentar, e se aceleraram durante o governo de Ronald Reagan (1981-1989), com um salto associado à intensificação da Guerra Fria, diz relatório do HSBC. Com o colapso da União Soviética, os gastos militares americanos recuaram como proporção do PIB a partir do começo dos anos 1990, até que os atentados de 11 de setembro de 2001 deflagraram nova rodada de aumento dos gastos militares e, por tabela, das despesas federais totais. A partir de 2010, voltaram a cair. Logan prevê que os gastos com defesa vão encerrar 2014 na casa de 4% do PIB.

A tendência de queda deve seguir nos próximos anos, diz Gregory Daco, economista-sênior da consultoria IHS Global Insight. Os grandes custos com guerras ficaram para trás, com as operações militares no Afeganistão devendo se encerrrar no ano que vem. Além disso, há cortes de gastos agendados para os próximos anos. Ele estima que os gastos militares, que ficaram em 4,8% do PIB no primeiro trimestre deste ano, atinjam 3,5% do PIB no fim de 2023.

A expectativa também é de encolhimento dos outros gastos discricionários do governo (aqueles não relacionados à defesa sobre os quais há maior autonomia da administração federal, que não incluem programas como a Previdência e o Medicare), diz Logan. Além de serem menos cíclicos, eles representam uma fatia menor da economia – ficaram em 2,6% do PIB no primeiro trimestre deste ano. Com isso, os cortes estimados para esses programas, de 5% até o fim de 2014, podem tirar mais 0,1 a 0,2 ponto percentual do crescimento neste ano e o mesmo tanto no ano que vem, estima ele. No total, segundo Logan, a redução dos gastos militares e não militares pode tirar de 0,4 a 0,5 ponto percentual em 2013 e também em 2014.

FONTE: Valor Econômico via Resenha do Exército

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