As agências de notícia e os grandes jornais da Europa e dos EUA já fizeram isso quando inventaram fatos sobre Saddam Hussein antes de os norte-americanos invadirem o Iraque. A estratégia é difamar o adversário para ‘ganhar’ a opinião pública internacional. Na mídia, Kim Jong-um é retratado como um insano ‘Doctor Evil’ e o povo norte-coreano, como loucos que matam crianças para saciar a fome.
Finian Cunningham - PressTV
A cobertura da mídia ocidental das crescentes tensões na Península Coreana é como uma mistura entre um filme ruim de James Bond com um filme de terror barato sobre zumbis comedores de carne humana.
Seria engraçado se o perigo de guerra não fosse tão sério e iminente. A direção perturbadora que a cobertura da mídia ocidental segue é a de expor a Coréia do Norte - um país pobre e estéril - para um ataque militar total pela maior superpotência nuclear psicopata do mundo - os Estados Unidos.
Paradoxalmente, este perigo tem sido incitado por corporações de “notícias” que, pomposamente, clamam ser os bastiões do jornalismo independente, quando na realidade não são nada mais do que os progenitores do pior tipo de ficção barata.
Kim Jong-un, o jovem líder da Coréia do Norte que tomou o poder depois de seu pai, em 2011, vem sendo transmitido como um vilão insano, o qual a mídia ocidental assemelha a um ‘Doctor Evil’.
Dias atrás, relataram que Kim estava ameaçando uma “guerra nuclear” contra a Coréia do Sul e seu patrono, os Estados Unidos. Que demoníacos!
É pouco mencionado o fato de que Kim foi forçado a tomar esta posição de estabelecer uma defesa convicta de seu país, sob uma imensa pressão de uma possível agressão imperialista implacável. A República Popular Democrática da Coreia foi agredida com mais sanções conduzidas pelos EUA que visam ostracizar o país de qualquer contato internacional.
Isso é o equivalente ao confinamento de um prisioneiro numa solitária, sujeito a privações sensoriais. Mas isto é tortura de uma nação inteira deixando-a sem garantia de sobrevivência.
Sim, a Coreia do Norte conduziu um teste nuclear subterrâneo na metade de fevereiro.
Isso aconteceu depois que os EUA fecharam o cerco com ainda mais sanções; mas não só isso: depois de anos em que Washington se recusou a negociar uma solução para acabar com mais de seis décadas de embargos comerciais alijantes junto da sempre presente ameaça de aniquilação nuclear, depois da guerra de 1950-53 com seu vizinho do sul, apoiado pelos EUA.
Nenhum outro país foi ameaçado com um Armageddon nuclear tão frequentemente quanto a Coréia do Norte - e sempre pelos EUA - por mais de 60 anos.
A mídia ocidental colocou seus holofotes sobre o líder norte-coreano ordenando suas tropas se preparando para “varrer do mapa” uma ilha sul-coreana, transformando um posto avançado marítimo em um “mar de chamas.”
Vocês veem a insinuação aqui? Varrer do mapa uma ilha? Bem, Kim deve ser um insano megalomaníaco, certo?
A ilha em questão é o disputadíssimo território de Baengnyeong, que está de fato localizada fora do território norte-coreano, mas que os EUA forçaram a possessão pela Coreia do Sul depois da guerra de 1950-53. Desde então ela tem sido usada, provocativamente, como um posto de vigilância norte-americano e planejamento de ataques futuros contra a Coreia do Norte.
Sem dúvida que a ilha será usada durante as manobras de planejamento que simulam a invasão da Coreia do Norte, mas que o Washington eufemisticamente chama de “medidas defensivas.”
Condizente com a caricatura de arquivilão, fotógrafos e equipes de filmagem abundaram na mídia ocidental mostrando Kim Jong-un vestindo em um longo sobretudo preto e luvas pretas, olhando através de binóculos aparentemente em direção à Coreia do Sul e às forças norte-americanas, do outro lado da zona desmilitarizada do paralelo 38.
Caso o público ocidental não compre essa caricatura demoníaca de Dr. Evil, ainda há outro papel a ser incutido - o zumbi comedor de carne humana norte-coreano.
Nas últimas semanas, houve diversas histórias regurgitadas pela mesma mídia ocidental que noticiou os surtos de canibalismo entre as pessoas supostamente famintas da Coreia do Norte. Estas histórias de terror canibalesco e niilismo não foram impressas apenas nos tabloides sensacionalistas. Elas também foram destacadas em jornais de suposta qualidade, como o britânico ‘Sunday Times’ e o ‘Independent’, assim como em um dos americanos mais vendidos, o ‘The Washington Post’.
Essas histórias macabras começaram a circular na mídia ocidental no fim de janeiro - aproximadamente duas semanas antes dos testes nucleares subterrâneos conduzidos pela Coreia do Norte. Isso sugere que as alegações de comilança de carne humana são o trabalho de uma campanha de informações psicológicas ocidental com o objeto de dar tons pejorativos à crise atual.
Tudo isso dificulta nossa leitura. Não por causa dos detalhes macabros, mas porque estas histórias são tão obviamente tramadas e regurgitadas de maneira repetitiva por supostas agências de notícias. Os testemunhos do horror provêm todos de uma única fonte: um time de jornalistas de uma agência chamada ‘Asia Press’, com sede no Japão, que secreta e corajosamente entrou na Coreia do Norte e supostamente entrevistou vários fazendeiros anônimos e oficiais do Partido Comunista.
A mídia ocidental passou dos limites ao divulgar esses relatos horripilantes de canibalismo sem confirmação ou verificação.
Em uma versão publicada pelo ‘Britain’s Daily Mail’, a manchete diz: “Pais norte-coreanos comem seus filhos depois de ficarem loucos por causa da fome”.
É noticiado aos leitores do ‘Daily Mail’ como adultos famintos estão sequestrando e assassinando crianças. Um homem foi supostamente executado depois que sua esposa descobriu que ele havia matado sua filha e seu filho mais novos “enquanto ela estava fora tratando de negócios”; quando ela retornou à propriedade de sua família faminta, seu marido a cumprimentou com a notícia de boas vindas que “temos carne” para comer.
Em outro conto macabro, impresso como notícia séria, é dito que um homem idoso escavou as sepulturas de seus netos e comeu seus restos podres.
O que é verdadeiramente perturbador sobre estas reportagens é o fato de que não são somente sensacionalismo sórdido passado como reportagens merecedoras de crédito, transmitidas por agências de notícia supostamente sérias. Pior do que isso é o fato de que, aparentemente, muitas pessoas que leem ou assistem essas mídias no ocidente creem nesta propaganda. Confira alguns dos comentários dos leitores abaixo das histórias mencionadas nas mídias acima e você encontrará todo tipo de condenações à Coreia do Norte e sua “gente doente”.
Mas não é o povo da Coreia do Norte que é depravado: é a mídia ocidental e seus crédulos assinantes que favorecem este ódio de caráter assassino contra uma nação inteira.
A cobertura da mídia ocidental da Coreia do Norte relembra as histórias de bebês sendo roubados das incubadoras dos hospitais por soldados iraquianos no Kuwait, o que foi crucial para que a opinião pública apoiasse a guerra liderada pelos EUA no Iraque, em 1991. Mais de uma década depois, a mesma mídia divulgou histórias assombrosas de armas de destruição em massa, histórias estas que pavimentaram o caminho para o genocídio americano no Iraque de 2003 a 2012.
Essa mesma imprensa ocidental propagandista repete incessantemente relatos sobre “ambições nucleares sinistras dos iranianos” que servem para justificar o embargo comercial criminoso liderado pelos norte-americanos contra o Irã, o que pode resultar num ataque militar executado por forças norte-americanas e israelenses contra a República Islâmica.
Essa mesma mídia está agora fazendo o mesmo trabalho de choque contra a Coreia do Norte. Uma nação de zumbis comedores de carne humana liderada por uma personalidade cultuada pelo mal que quer explodir ilhas?
“Sim, vá em frente Chuck, exploda estes filhos da ****!”
O público ocidental está sendo levado como um rebanho a concordar com o comportamento depravado de um barbarismo militar - uma superpotência militar com uma tremenda vontade de destruir uma nação empobrecida que não ameaça ninguém.
Na verdade, a realidade do imperialismo ocidental é mais perversa e doente do que a ficção ocidental.
Tradução: Roberto Brilhante de: Carta Maior
Fotos: Divulgação
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