segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Como colocar ordem no progresso?

Como colocar ordem no progresso?

O Brasil tem sido fre­quentemente conde­nado por seus “gar­galos” em infraestrutura. Estive fora do País por trinta anos, mas acompanhei o avanço sociopolítico da nação e o ganho de prestígio internacional. Retornei em 2011 e, obviamente, me deparei com outro Brasil, onde o crescimento econômi­co gerou os desafios atuais, que pre­cisam ser superados para permitir nova evolução da indústria e da so­ciedade brasileira.

De acordo com o último Censo De­mográfico do IBGE, o Brasil é o quin­to país mais populoso do mundo, atrás de China, índia, EUA e Indoné­sia. O salto populacional desde 1970, de 90 para 190 milhões de brasileiros em 2012, ampliou o poder da indús­tria e permitiu a evolução da classe média, hoje fundamental para a sus­tentação da economia. Para 2050, de­vemos ser mais de 250 milhões brasi­leiros, segundo projeção do Censo.

Esse indicador populacional é um alerta. Mais pessoas representam mais alimentos, mais energia, mais transporte, mais serviços de saúde e mais infraestrutura. Para garantir o aumento sustentável da produção in­dustrial, o desenvolvimento dos merca­dos e o suprimento da crescente deman­da em diferentes setores, é preciso mais do que planejamento e investimento en­volvendo o poder público e atores da iniciativa privada.

Usando a experiência brasileira co­mo exemplo de aprendizado, na década de 1950, ocorreu uma grande mudança na geografia do País, com o investimen­to no modelo rodoviário, que possibili­tou conectar diferentes Estados com o intuito de ampliar o comércio intra-estado e internacional. Um movimento beméfico, mas que não poderia ter acon­tecido de maneira isolada.

Ainda apoiado na história do que ocorreu com o Brasil de 1950, sabe-se que os investimentos para viabilizar a expansão das estradas foram de respon­sabilidade do governo. O Projeto de Lei Orçamentária divulgado pelo ministé­rio da Fazenda em agosto de 2012 prevê investimentos de R$ 186,9 bilhões para 2013, um aumento de 9% sobre o ano anterior. Uma projeção do BNDES, di­vulgada em 2012, aponta que o País rece­berá US$ 850 bilhões de investimentos da iniciativa privada, até 2014, para apli­cação na indústria, pesquisa e inovação. Cultivar esta parceria é outro aprendiza­do importante que tem sido ampliado, com benefícios pára ambos os lados.

Quais são os próximos passos? Em novembro passado, durante o +Brasil, evento realizado em São Paulo, gover­no, iniciativa privada e academia discutiram o trabalho para alavancar o cresci­mento sustentável que possibilite a ex­pansão dos principais indicadores eco­nômicos e sociais do País, sanando os entraves que impedem o avanço cons­tante e ordenado. A principal conclusão é que o planejamento precisa ser realiza­do mutuamente, tanto pelo governo co­mo pela iniciativa privada.

No cenário mundial, uma rápida imersão no êxito da Coreia do Sul mos­tra como a infraestrutura pode susten­tar o desenvolvimento. O avanço econô­mico, que fez o PIB per capita saltar de US$ 100 em 1963 para mais de US$ 31 mil por habitante em 2011, segundo o Fundo Monetário Internacional, possi­bilitou criar uma rede de transportes avançada e de alta tecnologia que cruza todo o território nacional. Investimen­tos em educação resultaram na presen­ça de aproximadamente 89% das pes­soas no terceiro grau. E com isso, permi­tiram o reabastecimento de talentos no mercado de trabalho.

Ao lado de programas do governo pa­ra enaltecer a pesquisa, os aportes em educação foram o principal combustí­vel para permitir que as gigantes da in­dústria coreana ultrapassassem concor­rentes japonesas na liderança da tecno­logia da informação. E apesar de ser uma nação com ampla capacidade de geração energética instalada, anunciou um plano para investir US$ 36 bilhões entre 2011 e 2015 para o desen­volvimento de fontes renováveis de energia, para crescer com exporta­ções de energia limpa.

Os desafios do Brasil decorrentes de carências em infraestrutura e ou­tros setores não apenas persistem co­mo representam entraves para um país com grandes ambições. As primeiras projeções oficiais para 2013, di­vulgadas pelo Banco Central em 18 de dezembro, apontam melhora na eco­nomia, mas continuidade das exporta­ções em ritmo reduzido. Esse termô­metro reforça a importância de se pla­nejar um Brasil com o governo e inicia­tiva privada caminhando juntos, in­vestindo continuamente e localmen­te em soluções inovadoras para os de­safios, para aumentar o potencial do mercado interno como sustentação da economia e possibilitar uma me­lhora significativa das exportações. Pensar na evolução do Brasil com o crescimento de toda a sociedade brasi­leira, a exemplo do avanço na Coreia do Sul, pode ser determinante para que 2013 seja o começo de um capítu­lo ainda mais promissor para o País.

FONTE: O Estado de S. Paulo – 07/01/2013

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