Somos um país ou somos ratos?
A revelação de que os Estados Unidos violam, em escala gigante, o sigilo das telecomunicações no Brasil não admite vacilações ao nosso país.
Não pode ser tratada com descaso, usando argumentos pueris como “todo mundo sabe que os EUA tem capacidade tecnológica para vigiarem o que quiserem”.
Poder para fazer não é a mesma coisa que fazer, assim como é muito diferente ter a bomba atômica e explodir uma delas.
Chegamos ao intolerável paradoxo de vermos que o país que se diz modelo da democracia violar, em plano mundial, a privacidade das comunicações telefônicas e cibernéticas dos cidadão de todo o planeta – inclusive e especialmente os brasileiros – num inacreditável volume de bilhões de ligações mensais.
Até agora, se sabia que faziam isso com seus próprios cidadãos, com as pessoas que vivem sob seu controle militar no Oriente Médio e, depois, com uma Europa ajoelhada moralmente, ao ponto de querer ocultar sua covardia negando pouso ao avião presidencial da Bolívia, talvez porque nada possa um índio como aqueles que, no colonialismo, massacrou aos milhões.
A partir da tarde de ontem, porém, é conosco.
Não somos melhores que ninguém, mas temos de cuidar de nós mesmos, se nos pretendemos um país adulto e soberano.
Está acima de ideologias. Nem o mais radical neoliberal diria que a regra do mundo deveria, ao lado do laissez faire, laissez passer, incluir um laissez écouter.
É um atentado às nossas leis e- mais grave – às mínimas regras de convivência entre as nações.
O Governo brasileiro jamais colocou ou colocaria obstáculos a qualquer investigação sobre ramificações terroristas antiamericanas em nosso país.
Mas nem o mais americanófilo brasileiro, civil ou militar, aceitaria que todas as comunicações feitas neste país fossem monitoradas por uma agência de espionagem.
Muito menos que as empresas – ainda que de origem estrangeira, operando sob as leis brasileiras – cedam gentilmente, sabedoras ou não, o acesso a seus (e nossos) registros de telefonemas, e-mail e todo o tipo de mensagem eletrônica, inclusive as redes sociais, a um Big Brother Sam na base de um é ir chegando e grampeando.
Que o Governo Obama tenha perdido o senso e os limites nessa questão, que queira transformar o homem que revelou seu esquema global de espionagem em um fantasma perambulando pelos desvãos do mundo, que tenha chegado ao ponto de usar seis vezes um Espionage Act de 1917 que, em 90 anos e uma Guerra Mundial no meio, só três vezes antes havia sido invocado, problema dele.
Que espione nossas telecomunicações, problema nosso.
A reação diplomática do Brasil deve ser a mais dura e clara.
Teremos a solidariedade de todo o mundo, enojado com essa monstruosidade e chocados de ver a reação pusilânime de governos nacionais que, eleitos por seus povos, prestam a mais rasteira vassalagem a quem viola a privacidade de seus cidadãos.
Não somos um Rato que Ruge, como no conhecido filme de Peter Sellers, em que um pequeno país se insurge contra os Estados Unidos.
Mas certamente não podemos nos comportar como ratos diante do grande e gordo gato.
PS do Viomundo: CPI para saber quais empresas permitiram espionagem de suas redes no Brasil e para perguntar ao Paulo Bernardo se ele autorizou.
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