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Aeroporto Internacional de Trípoli em 14/7/2014 |
A Líbia está considerando um deslocamento de força
internacional para restabelecer a segurança, agora que a violência recomeçou em
Trípoli, e dúzias de foguetes destruíram quase toda a frota de aviação civil
naquele aeroporto internacional.
“O governo analisa a possibilidade de solicitar que forças
internacionais sejam enviadas para atuar em solo, restabelecer a segurança, e
ajudar o governo a impor sua autoridade” – disse porta-voz do governo na Líbia,
Ahmed Lamine, em declaração. A seguir vídeo de 14/7/2014, gravado em Trípoli:
O “amanhã
democrático” prometido pela OTAN em 2011 aconteceu, vale lembrar –, na forma de
eleições previsivelmente fraudulentas, rejeitadas pelo país inteiro, que
produziram um vácuo de poder, que foi preenchido, como se viu, por conflito
armado crescentemente violento.
O mais
irônico disso tudo talvez seja que esses conflitos são já verdadeiras guerras
travadas entre vários grupos que a própria OTAN estimulou, armou e usou para
fazer a guerra de solo na Líbia, enquanto a própria OTAN só agia de longe, do
céu, bombardeando o país durante praticamente todo o ano de 2011.
Os fantoches
da OTAN canibalizam-se entre eles
Em maio de 2014, a luta na cidade de
Benghazi no leste da Líbia já deixara incontáveis mortos, muitos e muitos
feridos e legiões de moradores obrigados a abandonar as próprias casas para não
morrer, quando um “general renegado” fazia guerra contra “militantes
islamistas” dentro da cidade. Em artigo intitulado “Famílias evacuam Benghazi, e general renegado ameaça com novos
ataques”, a agência
Reuters escreveu, dia 18/5/2014:
O autodeclarado Exército Nacional Líbio, liderado por um
general renegado, disse a civis no sábado que abandonassem bairros de Benghazi
antes de ele iniciar ali mais um ataque contra militantes islamistas, um dia
depois de ter havido ali dúzias de mortos, nos mais violentos confrontos na
cidade em meses.
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Terroristas (milícias) pesadamente armados circulam livremente em Benghazi (maio/2014 |
O general
renegado é Khalifa Haftar (às vezes também escrito “Hifter”), que morou durante
anos nos EUA, nos arredores de Langley Virginia, ao que se crê sendo treinado
pela CIA, até que retornou à Líbia em 2011 para comandar as forças da OTAN em
solo no ataque do ocidente contra aquele país.
Desde que chegou aos EUA, no início dos anos 1990s, Hifter
morou no subúrbio de Virginia, próximo de Washington, DC. Badr disse que nunca
entendeu exatamente o que Hifter fazia para viver, e que a principal
preocupação de Hifter sempre fora ajudar sua grande família.
Quer dizer: trata-se de ex-general de Gaddafi, que muda de
lado e passa a trabalhar assumidamente para os EUA, instala-se em Virginia nos
arredores de Washington, D.C. e consegue apoiar a própria grande família na
Líbia, de modo que alguém que o conheceu ao longo de toda a vida diz que ‘nunca
entendeu exatamente’? Hmm.
É altíssima a probabilidade de que Hifter tenha sido
comprado para trabalhar a favor dos EUA. Assim como figuras como Ahmed Chalabi
foram ‘cultivadas’ para um Iraque pós-Saddam, Hifter pode perfeitamente ter
desempenhado papel semelhante como ativo da inteligência dos EUA, à espera de
um momento para agir na Líbia.
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Terrorista típico em Benghazi (14/7/2014) |
A ironia
desse “arranjo” é que muitos dos militantes sectários contra os quais Hafter
está em luta em Benghazi são os mesmos militantes contra os quais Muammar Gaddafi
se opôs ao longo de décadas como líder da Líbia; e são os mesmos militantes que
a OTAN armou e organizou, com Hafter, para induzir a queda de Gaddafi em 2011.
Sobre sua
própria guerra em Benghazi, Hafter disse que ela continuará “até que não reste nenhum terrorista em
Benghazi”; e que “começamos essa batalha, que prosseguirá até alcançarmos
nossos objetivos. A rua e o povo líbio estão do nosso lado”.
Os
sentimentos de Hafter fazem perfeito eco ao que dizia Muammar Gaddafi em 2011.
De diferente, só, que a imprensa-empresa ocidental negou, ao longo de décadas,
que houvesse qualquer terrorista em Benghazi; e sempre apresentou as operações
de Gaddafi em Trípoli como “massacre” de “pacíficos manifestantes pró-democracia”.
A OTAN
destruiu a Líbia
As mesmas
atrocidades que a OTAN listou, de início, como ‘causa’ para sua “intervenção
humanitária” na Líbia, imediatamente passaram a aparecer como práticas da
própria OTAN e das forças que a OTAN ou mantém ou acoberta. Cidades inteiras foram cercadas, deixadas
sem comida e água, e bombardeadas por ar, até capitularem. Em outras cidades,
populações inteiras foram, ou executadas, ou expulsas ou, em alguns casos,
‘empurradas’ para fora das fronteiras líbias. A cidade de Tawarga, onde viviam
cerca de 10 mil líbios, foi totalmente destruída, a ponto de o London Telegraph referir-se a ela hoje como “cidade
fantasma”.
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Líbia: casas destruídas - herança dos EUA-OTAN |
Desde a
queda de Trípoli, Sirte e de outras cidades líbias que resistiram contra a
invasão pelos terroristas da OTAN, praticamente nada se viu de qualquer
estabilidade básica, muito menos da “revolução democrática” que a OTAN e seus
terroristas-colaboradores prometiam para a Líbia. O governo em Trípoli continua
em caos eterno; as forças de segurança divididas combatem entre elas mesmas; e
agora há também um “general renegado” que a CIA introduziu na Síria, e que
comanda operação militar em grande escala contra Benghazi, usando também força
aérea e, aparentemente, sem a aprovação do governo em Trípoli.
Anos depois
da conclusão da dita “revolução”, a Líbia continua sua trajetória forçada na
direção do mais completo atraso. As grandes realizações do governo de Muammar Gaddafi
já foram desmontadas há muito tempo e é pouco provável que venham a ser restauradas
– e de serem ampliadas, então, disso, nem se cogita! – em futuro previsível.
Na Líbia, a
OTAN efetivamente desorganizou e destruiu uma nação inteira. A ação da OTAN na
Líbia reduziu o país a pilhas de ruínas fumegantes, para que empresas ocidentais
possam, não só pilhar os recursos nacionais, mas, também, usar o “modelo líbio”
com o padrão para futura ação extraterritorial na Síria, Egito, Ucrânia e agora
novamente no Iraque.
Egito,
Síria, Ucrânia: atenção ao “modelo líbio”
Assim como
foi feito na Líbia, também se tentou fazer “revoluções” assemelhadas no Egito,
na Síria e na Ucrânia. As mesmas narrativas, palavra a palavra, inventadas nos think-tanks políticos; nas redações da
imprensa-empresa; e nas “análises” dos especialistas acadêmicos ocidentais,
para a Líbia, estão sendo agora requentadas para o Egito, Síria e Ucrânia.
As mesmas
ONGs estão sendo usadas como meio para fazer chegar dinheiro, equipamento e
outras modalidades de apoio aos grupos de oposição, em cada um desses países.
Termos como “democracia”, “progresso”, “liberdade” e “luta contra a ditadura”
são frequentes. Não houve protesto que não tenha sido inflado por militantes
armados e, sempre, apoiados pelo Ocidente.
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Al-Qaeda, armada pelos EUA-OTAN, na Síria |
No Egito,
ainda há alguma ambiguidade, como houve também em 2011 no caso da Síria, sobre
quem realmente são os manifestantes, o que realmente dizem e de que lado estão “as
simpatias” do ocidente. Mas análise atenta mostra que, assim como a
Fraternidade Muçulmana foi usada na Síria para montar o cenário para a guerra
devastadadora que se seguiu, a Fraternidade Muçulmana no Egito também está
sendo usada, praticamente do mesmo modo, contra o Cairo.
Finalmente,
na Ucrânia, os manifestantes apresentados no ocidente como “pró-democracia”,
“pró-União Europeia”, “pró-Euromaidan” já foram revelados como neonazistas, de ultra
direita, nacionalistas conhecidos por recorrer regularmente à violência e à
intimidação política. Exatamente como se viu na Síria em 2011 e no Egito agora,
confrontos armados de baixa intensidade são cada dia mais frequentes, e a
intensidade cresce regularmente, já configurando o que pode vir a ser mais uma
guerra norte-americana guerreada por terceiros “nomeados”: dessa vez, é a OTAN contra a Rússia, na Europa
Oriental.
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Desfile de neonazistas em Maidan (14/3/2014) |
Esses três
países e os envolvidos dos dois lados dessa guerra devem, isso sim, examinar
detidamente o estado a que a Líbia foi reduzida. As tais “revoluções” só podem
ter uma conclusão lógica e previsível: a destruição, a demolição, a divisão de
cada uma das nações-alvo, antes de serem incorporadas, já em estado de cadáver,
à sempre crescente “ordem supranacional” de Wall Street e Londres, para serem
infinitamente saqueadas até serem reduzidas à miséria. E boa parte dos EUA, do
Reino Unido e da União Europeia também já estão reduzidos a miséria, hoje.
Quem se
preocupe com o que será feito de Egito, Síria ou Ucrânia no caso de a OTAN
conseguir fincar as garras nesses países, que examine o caso da Líbia. E os que
apoiaram a tal “revolução” na Líbia, que se perguntem a eles mesmos se estão
satisfeitos com o resultado final. Querem ver o mesmo resultado também no
Egito, na Síria e na Ucrânia? Ou, talvez, imaginam que os planos da OTAN para
cada um desses países levarão a resultados muito diferentes do que os que se
veem hoje na Líbia? Por quê?